Entenda como as empresas mais valiosas do mundo chegaram lá e como se aproveitar da nova onda que vive a economia
No mundo pós-pandemia, já é possível identificar três tipos de gestores: i) os que ainda continuam negligenciando o digital como principal ambiente de negócios; ii) os que entenderam o valor de negócios construídos por meio de software as service (SaaS) e modelos de marketplaces e; iii) aqueles que já incorporaram o digital como visão de negócio e agora investem tempo e dedicação em estratégias de dados e modelos de machine learning.
Independentemente do porte da empresa (desde uma startup até uma empresa tradicional de capital aberto), modelos de machine learning construídos a partir da ciência de dados são uma realidade cada vez mais acessível e que, quando incorporadas às plataformas de marketplace, possuem potencial de crescimento e geração de valor em níveis exponenciais. E é dentro deste tema que os gestores mais visionários têm desafiado suas equipes.
A evolução do “risco tecnológico”
Os modelos de negócio sempre foram repensados à medida que avançava a tecnologia. Esta, por sua vez, era vista basicamente como elemento de inovação, eficiência e redução de custos. Porém, até então, os modelos de negócio pouco se alteravam, pois as empresas eram capazes de incorporar e absorver os avanços tecnológicos, convertendo-se em lucros ao final do período.
Quando se observava o fim completo de um modelo de negócio, este se dava pela obsolescência do produto ou pela mudança de preferência dos consumidores. Neste sentido, os modelos de negócio morriam junto com seus produtos. Quando os principais gurus em estratégia se referiam ao “risco tecnológico”, faziam neste nível sua análise.
No entanto, algo vem mudando desde o início deste século. Hoje, o que fazem as cinco empresas mais valiosas do mundo? Em quais segmentos atuam? Vendem quais produtos?
Estas empresas, somadas, alcançam um valor de mercado de aproximadamente US$ 8 trilhões e todas elas possuem um ponto em comum: seu valor consiste em inovar modelos de negócio e não propriamente nos itens que comercializam ou nos serviços que prestam.
É como se, em um jogo de xadrez, estas empresas estivessem repensando o tabuleiro e não em como se movimentam as peças. Por isso, estão sendo capazes de reinventar o modo de consumir e reordenando muitas das cadeias de suprimentos. Tudo isso feito a partir de algoritmos, dados e inteligência artificial.
Mas como o mundo chegou até aqui? Como empresas tradicionais como GE, Walmart, Exxon e Citigroup (as chamadas big players) foram ultrapassadas por empresas baseadas em algoritmos e nascidas a partir de plataformas?
Entendendo as ondas tecnológicas
Para se compreender esta nova dinâmica econômica, deve-se voltar ao início do século e a partir dali fazer um recorte a cada início de década. Para ajudar nesta compreensão, importante é contar com a análise de executivos do mundo da tecnologia e de fundos de investimento – líderes com a capacidade de precificar o valor do futuro.
Pode-se assim, desde o início do século até o momento, dividir o tempo em três grandes ondas, onde cada líder foi capaz de avaliar a relação entre a tecnologia e os desafios impostos aos modelos de negócio.
1ª. Onda – “O mundo é plano”
Em 2005, o jornalista Thomas L. Friedman publicou seu livro “O Mundo é Plano”. Neste livro, o autor claramente comprovava que, com a entrada de novos players no capitalismo (sobretudo China, Índia e ex-repúblicas soviéticas), as cadeias de suprimento e consumo estavam todas se reordenando para um mesmo nível e que a partir daquele momento tudo o que se entendia sobre a “dinâmica competitiva das empresas” precisava ser repensado. Era um mundo que, superados seus limites geográficos e/ou culturais, estava se planificando.
Neste momento, a tecnologia cumpria sua primeira função enquanto “tradutora” desta nova ordem produtiva que surgia então no mundo: transmissão de dados, infraestrutura, reordenamento de fluxos de trabalho entre diferentes países, etc; até a própria expansão da internet naquele momento foi impulsionada pelas demandas impostas pela “planificação” da economia.
Assim, empresas que antes competiam apenas localmente por recursos humanos, capitais e clientes, passaram a sentir os efeitos da globalização. A este momento da história, entende-se como sendo a “1ª. onda” do impacto da tecnologia nos modelos de negócio.
2ª. Onda – “O software está engolindo o mundo”
Em 2011, o investidor e então conselheiro da HP, Marc Andreessen, publicou seu artigo “Por que o software está engolindo o mundo” no The New York Times. Nele, o autor já visualizava um mundo digital nos próximos dez anos e o porquê de os modelos de negócio de software ocuparem um novo tamanho dentro da carteira dos investidores.
Para ele, na ocasião o software era um modelo de negócio superior prestes a irromper o mundo físico e suas cadeias de suprimentos, sendo mais escalável e eficiente do que todas as outras indústrias. Gerava assim maiores retornos e portanto um maior fluxo de investimentos para as empresas do segmento.
Os smartphones já começavam a ganhar mais espaço nos países menos desenvolvidos e o acesso à internet também estava se popularizando com o advento do 4G. É neste momento que modelos de negócio tradicionais começaram a se converter em empresas de “software”, iniciando-se, sobretudo, pelo segmento de serviços.
A Amazon estava transformando o negócio de venda de livros e a Netflix, o consumo de vídeos, por exemplo. As empresas de conteúdo, ainda dependentes das tvs por assinatura, já estudavam maneiras de se conectar aos smartphones de sua audiência, ainda que não soubessem como administrar os eventuais conflitos que poderiam surgir na cadeia de distribuição.
Assim, a tecnologia já demonstrava seu potencial disruptivo na distribuição de produtos e serviços, deixando as empresas com o desafio de pensar em novos modelos de negócio.
3ª. Onda – “Os modelos comandam o mundo”
Em 2018, Steven A. Cohen e Matthew W. Granade, gestores de um hedge fund, em um artigo publicado no The Wall Street Journal expuseram suas teses de investimento como investidores e mostraram como os modelos construídos a partir de inteligência artificial estavam prestes a reordenar a economia do mundo.
Para eles, o espetacular avanço dos softwares do ciclo anterior (descrito por Andreessen) e agora presentes no dia a dia das pessoas, permitia às empresas estruturar novos modelos de negócio baseada em “aprendizado contínuo”, a partir da própria interação com os usuários.
Este ciclo seria estruturado a partir de um loop de interações e dados e uma vez construído da maneira correta, eles entrariam em um círculo virtuoso: seus resultados seriam melhores, atraindo mais consumidores, permitindo-lhes coletar mais dados, o que os levaria a construir modelos melhores, exibindo melhores escolhas aos clientes e assim por diante.
Estava assim sendo criada a primeira geração de modelos de negócio conduzidos por modelos de inteligência artificial.
Ressaltavam ainda que este modelo de negócio estava sendo criado dentro de incumbentes e start ups ao longo de diferentes indústrias. Esta seria então a 3ª. onda do impacto da tecnologia nos negócios e a atual em que as empresas estão vivenciando.
Estas três ondas são capazes de explicar o motivo das maiores e mais valiosas empresas no mundo hoje serem as empresas que justamente dominam este modelo multifacetado de crescimento.
Elas têm como foco fornecer aos clientes conexões valiosas a uma infinidade de fornecedores e entregar aos seus clientes mais do que eles desejam, graças ao machine learning e às recomendações baseadas em dados.
Atravessando a 3ª. onda
Uma década já se passou desde que um “mundo digitalizado” foi previsto pelos gurus do mundo da tecnologia. No entanto, foi necessária uma pandemia acompanhada com mudanças no estilo de vida das pessoas para que as inovações digitais realmente alterassem o modo como as empresas pensam seus modelos de negócio. Como resultado, líderes empresariais de todos os segmentos agora sentem a necessidade estratégica de investir em plataformas, produtos e serviços digitais.
Muitos destes líderes parecem já ter compreendido o sentido da “3ª. onda” e a dimensão que o termo “modelo de negócios” passa a ocupar a partir deste momento. E já antevendo como podem chegar ao fim deste ciclo com sucesso, já se preparam para um mundo em que o core business de suas empresas será o quão rápido são em aprender com seus clientes e ajustar suas ofertas a eles.