Paula Paschoal, diretora geral do PayPal no Brasil, fala sobre o futuro do setor de pagamentos e os planos no mercado nacional: a companhia entrará na guerra das maquininhas e oferecerá crédito

Durante o último evento do PayPal, que ocorreu no começo de agosto em Nova York, nos Estados Unidos, Paula Paschoal, diretora geral da companhia no Brasil, revelou que irá expandir o portfólio no País: a pioneira entre as carteiras digitais globais estreará nos mercados de crédito e de adquirência, engrossando o time das maquininhas.

Apesar de não ter data definida, tanto o Working Capital, que já concede empréstimos para empreendedores nos Estados Unidos, México, Alemanha e Austrália; quanto suas processadoras de pagamentos móveis podem entrar no mercado ainda este ano.

A operação com maquininhas próprias já vinha sendo especulada desde 2018, quando a companhia comprou a adquirente sueca iZettle. Na ocasião, o PayPal desembolsou cerca de US$ 2,2 bilhões, configurando a maior compra da empresa americana até os dias de hoje.

“A aquisição tem como um de seus objetivos principais estar cada vez mais presente na vida das pequenas e médias empresas”, diz Paula Paschoal à CWS.

No Brasil, onde o clima está acirradíssimo com a disputa entre players consolidados e novos entrantes, o PayPal enxerga ganhos tanto para o consumidor como para o empreendedor.

“Competição sempre favorece o consumidor. Mas no caso das soluções POS, ela também está sendo boa para quem vende, porque fomenta serviços mais baratos e dá, principalmente aos pequenos empreendedores, mais controle sobre recebíveis, melhorando sua saúde financeira”, complementa.

Se a briga vem esquentando com as adquirentes, o clima não é diferente com as carteiras digitais. Hoje, a wallet do PayPal divide o mercado com players como Apple PaySamsung Pay e Google Pay.

Estima-se que a carteira da Apple já seja usada por 252 milhões de pessoas no mundo, de acordo com análise da Loup Ventures, aproximando-se da PayPal, que atingiu, este ano, a marca de 286 milhões de contas ativas. No Brasil são quatro milhões. “Estamos crescendo, no País, cerca de 25% ao ano desde 2017”, frisa Paula.

O crescimento acelerado é um reflexo do que nos espera num futuro próximo. “Não há motivo para acreditarmos que será preciso ter um cartão no bolso para pagar por um produto ou serviço dentro de alguns anos”, comenta a executiva.

Os países asiáticos são prova disso, uma vez que o método de pagamento via smartphone domina lojas e restaurantes. Impulsionado pelos serviços Alipay e WeChat Pay, das empresas Alibaba e Tencent, o desuso do papel-moeda e de cartões de plástico já é realidade. “Na China, até algumas feiras livres já não aceitam pagamento que não seja feito por QR Code, via dispositivo móvel”, reforça Paula.

Para se ter ideia da força desse movimento, as duas companhias chinesas têm 92,7% de participação de mercado, de acordo com um relatório da consultoria Analysys International.

Por aqui, o método de pagamento eletrônico tem tudo para seguir os mesmos passos dos países asiáticos, afinal, 60% dos brasileiros já têm smartphone, segundo dados do Pew Research Center. O País, ao lado da África do Sul, lidera o uso de celulares conectados à internet entre países emergentes.

“A utilização do smartphone como meio de pagamento deverá crescer muito nos próximos anos. As transformações já estão acontecendo. No campo dos negócios, vai sobreviver quem ficar em permanente mudança”, analisa Sérgio Bessa, professor da FGV.

Na entrevista a seguir, Paula Paschoal discorre sobre o futuro dos meios de pagamento e como a tecnologia 5G poderá impactar o setor:

CWS: Qual é o balanço dessa primeira década de atuação no Brasil?

Paula Paschoal: O brasileiro é um entusiasta da tecnologia. Gosto de citar o exemplo dos aplicativos de táxi. Há quatro anos, seria impensável pegar um táxi sem ter dinheiro vivo na mão. E era preciso ir até um ponto de táxi ou pegá-lo na rua. Hoje, é impensável pegar táxi sem o uso de um aplicativo. E pagar virtualmente. E o motivo? Porque é mais fácil, mais rápido, mais prático e mais seguro. As pessoas não querem perder tempo com trivialidades.

Uma prova de que o futuro é digital – e, mais do que isso, mobile – é a movimentação das principais instituições bancárias do País rumo à digitalização. Ainda há bastante espaço para crescer, um mercado importante em perspectiva.

O cenário de pagamentos digitais no Brasil está evoluindo rapidamente. Com 209 milhões de habitantes, altas taxas de penetração de smartphone e adoção de internet móvel (62%, de acordo com dados do Pew Research Center), há um tremendo potencial para o PayPal no País.

CWS: Nesse cenário, como estarão posicionadas as carteiras digitais e as maquininhas?

Paula Paschoal: Baseado no que sabemos sobre segurança, comodidade e praticidade, eu diria que as carteiras digitais são o futuro dos pagamentos eletrônicos. Elas reúnem funcionalidades que são muito importantes nos dias atuais. Quanto às maquininhas, tudo depende de que tecnologia estará mais capilarizada no mundo.

Se for o QR Code, as maquininhas se tornarão menos importantes. Se for o NFC (que viabiliza pagamentos por aproximação, através de cartões e acessórios), elas terão ainda bastante tempo de vida pela frente. Mas o futuro vai tornar tudo online a ponto de não precisarmos mais de nenhum device intermediário.

CWS: Em quanto tempo?

Paula Paschoal: O dinheiro em papel será o primeiro a desaparecer, depois será a vez do chamado dinheiro de plástico, os cartões de débito e crédito. O mundo será 100% online em algum momento. Mas, em países como o Brasil, essa mudança não acontecerá na velocidade que gostaríamos.

CWS: Até porque, atualmente, há um volume de 6,27 bilhões de cédulas circulando no País, o equivalente a R$ 232,7 bilhões. Um número altíssimo…

Paula Paschoal: Sim, no entanto, o dinheiro em espécie está com os dias contados. Mas não será algo que veremos tão cedo, pelo menos no Brasil. Fazer dinheiro custa dinheiro. Para produzir R$ 1 mil em cédulas de R$ 100, o gasto é de R$ 322,26. A mesma quantia em moedas de R$ 1 custa R$ 467,70. São cálculos do Banco Central.

Isso significa que parte significativa do valor é perdida no processo de produção. Mesmo assim, atualmente, o volume é enorme e esse número só vem aumentando. Em 2011, por exemplo, havia 4,48 bilhões de notas, no valor de R$ 136,11 bilhões. Hoje, o número está bem mais alto, de fato.

Uma das razões do aumento pode ser a falsa sensação dos comerciantes e da população de que os pagamentos feitos com cédulas e moedas não têm custo, diferentemente de outros meios, que cobram algum tipo de tarifa. Essa é uma visão equivocada. Desde a produção das cédulas até a sua distribuição nas agências bancárias, há um custo elevadíssimo que as pessoas desconhecem.

Paula Paschoal, diretora geral do PayPal no Brasil: “As carteiras digitais são o futuro dos pagamentos eletrônicos”. Foto: divulgação

CWS: A chegada da tecnologia 5G poderá alavancar, de vez, o mercado de pagamentos digitais no Brasil?

Paula Paschoal: Uma das vantagens mais importantes é a baixa latência. Isso se refere ao tempo de resposta entre o clique e a conexão, ou seja, quando a rede responde e te leva ao site. Nas redes atuais, o tempo de espera gira em torno de 20 milissegundos. Não parece muito, mas, com o 5G, a latência se reduz a um milissegundo.

Não só teremos à disposição um bom nível de cobertura como também poderemos enviar e receber dados a uma velocidade superior à que temos hoje. Isso não apenas beneficiará os consumidores, mas também terá um grande impacto sobre a economia, já que o aumento drástico da velocidade de transmissão de dados permite realizar transações mais ágeis de todos os tipos.

CWS: Do lado do empreendedor, como as soluções do PayPal têm aumentado a taxa de conversão nas plataformas digitais?

Paula Paschoal: O PayPal tem uma plataforma chamada One Touch, cuja missão é facilitar a compra online por parte do consumidor, o que, por tabela, aumenta a taxa de conversão do lojista. O sistema, baseado em inteligência artificial e machine learning, cria uma identidade comportamental do usuário e facilita a compra online em mais de 11 milhões de estabelecimentos no mundo inteiro que já contam com o sistema em seu processo de checkout.

Isso permite ao cliente fazer compras sem ter de redigitar a senha e o login a cada transação. E esse fato proporciona uma melhor experiência para o consumidor, especialmente em compras via mobile, nas quais a facilidade de conclusão da etapa de pagamento é decisiva para o sucesso da compra.

O sistema representa aumento na taxa de conversão para o varejista porque, quanto mais simples é a operação de pagamento, menor se torna o índice de abandono do carrinho de compras e maior é o volume total de vendas. O OneTouch é o produto de mais rápida adoção na história do PayPal. Em nível global, mais de 123 milhões de clientes da plataforma já utilizam o serviço em suas compras cotidianas.

CWS: Em um mercado em ascensão como o Brasil, como o PayPal planeja estar posicionado em médio prazo?

Paula Paschoal: Como a melhor plataforma global de pagamentos eletrônicos e a principal opção tanto para quem compra quanto para quem vende, tanto para consumidores como lojistas, com toda a segurança. Por isso mantemos dois laboratórios de inovação em nossa sede nos Estados Unidos e investimos tanto em desenvolvimento de novas tecnologias antifraude.

(Matéria publicada em agosto de 2019).