Sua marca ainda vive na era offline? Se sim, temos uma má notícia para você: ignorar ações digitais pode ser fatal para os seus negócios. Confira a (surpreendente) valorização de companhias que acreditaram no poder da tecnologia e o triste fim de quem não deu ouvidos ao tema

Há alguns anos, era pouco provável que gigantes mundiais perderiam força em seus respectivos mercados de atuação. Quem não lembra da Blockbuster?

A locadora de vídeos americana, que já foi a maior do mundo, hoje só é encontrada em buscas na internet – não raro, em artigos que a exemplificam como case mal sucedido em tempos modernos.

No início dos anos 2000, enquanto a concorrente Netflix já saía na frente com o serviço de entrega de DVD’s por correspondência, a Blockbuster continuava apostando no mesmo modelo de negócio, sem acompanhar as tendências e as mudanças na forma de consumo de seus clientes.

A palavra inovação estava no máximo em algum título ou descrição de filme de ficção. Ela, ao contrário da maioria das companhias bem-sucedidas hoje, não apostou em recursos tecnológicos.

Para se ter ideia do crescimento do interesse do mercado empresarial nesse tema, até 2019 os investimentos em transformação digital deverão atingir US$ 1,7 trilhão, aumento de 42% em relação a 2017, segundo dados da consultoria IDC. Uma pena a Blockbuster não ter se interessado a tempo…

…Blockbuster X Netflix

A Blockbuster não olhou a concorrência, não inovou e, assim, perdeu mercado. Entre 2006 e 2007, a empresa ainda acumulava números robustos: o valor de mercado, na época, chegou a quase US$ 500 milhões; enquanto sua rede estava presente em 26 países com oito mil lojas e mais de 70 milhões de associados.

Mas, com a ascensão da plataforma de streaming de sua concorrente Netflix, os números viraram motivo de preocupação.

Em 2011, a Blockbuster já acumulava US$ 87 milhões em dívidas. No mesmo ano, foi arrematada pelo grupo Dish Network em um leilão de falência, por US$ 322 milhões – valor muito menor do que valia quatro anos atrás.

Dois anos depois, seu novo dono decretava o fim da rede. Empresas de aluguel de filmes online roubaram seu espaço.

Quem enxergou o digital antes foi além. Hoje, a Netflix colhe os frutos de suas iniciativas inovadoras e se transformou em uma verdadeira potência no mercado de filmes e séries, com suas produções milionárias.

O mercado quer investir em empresas que estão se digitalizando

Sede da Netflix, na Califórnia (EUA): seu valor de mercado já ultrapassa a Walt Disney Company. Foto: divulgação.

A companhia tem mais de 130 milhões de assinantes e, em maio, seu valor de mercado alcançou os US$ 152,3 bilhões – ultrapassando, inclusive, a Walt Disney Company, com US$ 151,7 bilhões.

A empresa registrou lucro líquido de US$ 384 milhões no segundo trimestre deste ano, o que equivale a US$ 0,85 por ação, superior ao resultado do mesmo período do ano passado, quando atingiu os US$ 66 milhões de lucro e US$ 0,15 por ação.

A receita avançou 40,3% no segundo trimestre, no comparativo com o mesmo período de 2017, para US$ 3,907 bilhões. Todos esses números mostram que o mercado, de fato, valoriza empresas que saem na frente e buscam inovação.

A Netflix é um bom exemplo no mercado digital. A Blockbuster, infelizmente, poderia ter tido outro rumo se digitalizasse suas operações e inovasse.

Segundo Guilherme Pereira, diretor de inovação da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP), grandes companhias têm perdido mercado até para menores, exatamente, por não saber reconhecer as necessidades de seus clientes.

“As grandes empresas estão competindo com startups que, mesmo sem muita infraestrutura, conseguem gerar valor e criar diferenciais competitivos”, opina.

O mercado quer investir em empresas que estão se digitalizando

Guilherme Pereira, diretor de inovação da FIAP. Foto: divulgação.

“O desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias nunca foram tão rápidos quanto hoje e este cenário cria um contexto mais complexo para se fazer negócios. As empresas e os gestores estão buscando novos formatos para gerar e capturar valor, e a digitalização dos modelos de negócio é um dos grandes pilares estratégicos de inovação nos próximos anos”, complementa.

Kodak: uma triste ‘revelação’

Fundada nos anos 1880, a americana Kodak foi a grande responsável pela popularização da fotografia impressa, que perdera espaço muitos anos depois com o lançamento das câmeras mais tecnológicas.

Curiosamente, em 1975, a companhia guardava a sete chaves uma invenção que, se tivesse sido lançada no momento certo, poderia ter dado outro rumo à empresa: a câmera digital. Com receio de atrapalhar seus atuais negócios, afundando as vendas de seus filmes fotográficos, ela própria se sabotou.

Sua entrada tardia no mercado digital resultou em uma quase falência em 2012 – ano em que a companhia entrava em concordata, com US$ 6,75 bilhões de dívidas.

Hoje, anos depois, a empresa se recupera no mercado com (finalmente!) produtos e ações muito mais digitais. Digitais até demais. Há poucos meses, a Kodak expandiu sua área de atuação e, agora, também aposta no mercado de criptomoeda.

Com plataforma própria, batizada de KodakOne, as moedas KodakCoins prometem ajudar fotógrafos a controlar seus direitos de imagem.

Com essa iniciativa, profissionais poderão receber pagamento pelo licenciamento do trabalho, de forma imediata, com a ajuda da tecnologia blockchain. Após o anúncio, suas ações subiram mais de 105%.

Para Guilherme Pereira, a estratégia da empresa vai ao encontro das inovações do setor financeiro, que está cada vez mais tecnológico.

“Os que mais buscaram realizar sua transformação digital mundialmente foram telecomunicações, mídia e publicidade, finanças e seguros. No entanto, outros setores também vão passar por transformações mais profundas nos próximos anos”, afirma.

“Os modelos de negócio chegaram em um limite e precisam ser reinventados e, por isso, estão buscando caminhos inovadores para a geração de competitividade”, complementa.

E aí, sua empresa jogará no time da Netflix ou da Blockbuster? Só cabe a você escolher…