Na contramão das incertezas geradas pela pandemia, o aftermarket brasileiro tende a ganhar força nos próximos meses (e anos) e ser beneficiado com a digitalização

As incertezas econômicas causadas pelo coronavírus fizeram os brasileiros adiarem os planos de ostentar um carro zero quilômetro na garagem. A queda nas vendas de autoveículos novos, em 2020, tem sido grande, e deve chegar a 31% em relação ao ano anterior, segundo dados da Anfavea.

De acordo com as expectativas do setor, a recuperação tende a ser a passos lentos. “As vendas de carros novos devem demorar para voltar ao patamar antes da Covid-19. Isso significa que a idade da frota, que já tem a média de 10 anos, tende a aumentar, já que o poder de compra do consumidor caiu na pandemia. Com menos renda, as pessoas postergaram a troca do carro usado por um novo”, diz Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP e Sindirepa Nacional.

Com a idade maior da frota, a procura por manutenção e peças, consequentemente, aumenta. Para se ter ideia do otimismo para o mercado de reposição, uma análise da TCP Partners prevê que as empresas que são especializadas em peças terão bons resultados pelos próximos quatro anos.

E, em um momento em que o digital está em alta em vários setores, o de aftermarket também tem surfado essa onda. O estudo “E-commerce de produtos durante a pandemia da Covid-19”, realizado pela Konduto em parceria com a Abcomm, aponta que o mercado de reposição vem tomando fôlego no cenário virtual.

Durante o período maior de isolamento, o varejo de peças não teve outra escolha senão digitalizar as vendas. O número de pedidos online teve picos de crescimento em abril e maio.

Para Fiola, a alta é natural, uma vez que o e-commerce de peças tem sido a principal alternativa para quem precisa de reparação. No entanto, a tendência deve permanecer.

“O comércio eletrônico foi a opção mais viável nessa ocasião, oferecendo segurança e comodidade. A pandemia acelerou a digitalização do setor”, diz o executivo, que com o apoio de outros sindicatos tem incentivado este mercado a aderir uma nova abordagem nos negócios. “Através de parcerias, temos oferecido às empresas associadas cursos relacionados ao mundo digital.”

Em tempos de digitalização, é preciso se adaptar

Rodobens, que também atua no setor de aftermarket automotivo, tem usado o digital a seu favor no período de pandemia. De acordo com o Chief Digital Business Officer do grupo, Marcos Adam, a integração das lojas físicas com a plataforma foi fundamental nessa fase.

“Ter a capacidade de integrar o ambiente online e offline na nossa operação, principalmente em tempos de pandemia, foi muito valioso, pois trouxe a segurança que o cliente precisava, sem deixar de atender às suas necessidades”, afirma o executivo.

Apesar de ainda estar no início da operação digital, as oportunidades de venda já são positivas. “Mesmo ainda no começo, nosso e-commerce vem gerando muitas buscas orgânicas de visitantes fora da nossa base de clientes e, isso, com certeza, vai gerar mais oportunidades de negócio para nossa equipe”, complementa Lucas Lima, coordenador de e-commerce da Rodobens.

Para uma companhia de aftermarket se manter relevante atualmente, não há outra saída senão se adaptar ao “novo normal”, que é através de iniciativas digitais. “Esta crise, sem dúvida, deixou latente a necessidade de adaptação, flexibilização e agilidade nas empresas”, opina Adam.

Patrícia Cotti, professora do Programa de Varejo da FIA, concorda. “Este mercado está se reinventando. Para as empresas que sobreviveram, a reinvenção se deu em estrutura, posicionamento, mix de produtos, abastecimento e atendimento. Com a volta, todas elas são colocadas em um local comum de necessidade de se fazer útil na vida de um consumidor diferente, que não está mais acostumado àquela rotina de compras e soluções de antes”, conclui.