Em entrevista à CWS, João Pedro Paro, CEO da Mastercard no Brasil e Cone Sul, região que engloba Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, comenta sobre as mudanças na forma de pagamento, as iniciativas da companhia para este mercado e por que ações inovadoras são fundamentais no varejo

Se ao se deparar com uma longa fila no caixa você desiste de fazer uma compra, saiba que não está só. Em uma recente apresentação, a especialista em varejo Angela Wong, da consultoria BCG, disse que já largou suas compras porque havia três pessoas na sua frente em um caixa (assista ao vídeo). E fez um alerta para os varejistas: “oferecer conveniência não é mais um diferencial, é crucial.”

A mesma recomendação é dada aos comerciantes pelo CEO da Mastercard no Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro. Entusiasta de ações inovadoras, o executivo lidera um movimento em prol dos pagamentos por aproximação (do inglês, contactless).

“Este é, sem dúvida, um dos principais avanços da indústria de meios de pagamentos nos últimos anos. É um método realmente prático, rápido e seguro”, justifica João Pedro Paro, em entrevista à CWS. “Estamos caminhando em direção a um mundo em que o dinheiro físico não será mais necessário.”

Por não ter a necessidade de colocar a senha na hora de efetuar o pagamento, uma vez que ao aproximar o cartão da máquina a transação já é realizada e aprovada, essa opção pode ser até dez vezes mais rápida do que as convencionais. Ou seja, eliminando filas e garantindo mais comodidade aos clientes.

Não por acaso, a iniciativa vem ganhando espaço no transporte público, a fim de dar cabo ao problema recorrente. Além da Mastercard, que já viabiliza o sistema em trens no Rio de Janeiro e em linhas de ônibus na cidade de Jundiaí (SP), a Visa também tem levado a tecnologia ao transporte carioca e a diversas cidades brasileiras.

Com o objetivo de introduzir mais rápido o método contactless na vida dos brasileiros, desde abril deste ano, todos os cartões emitidos pela Mastercard vêm com a tecnologia responsável por esse tipo de transação – a NFC (Near Field Communication).

O desafio, agora, está em convencer os comerciantes a aderirem à novidade. “Uma das principais estratégias da companhia para aumentar essa aceitação é destacar os benefícios principais dos pagamentos digitais, tanto para lojistas como para usuários”, diz o CEO da Mastercard.

Se do lado do consumidor um dos grandes destaques é a agilidade; do lado do varejista, o benefício é refletido diretamente no bolso. Além de minimizar os riscos de o cliente abandonar as compras por conta da fila, nesse método de pagamento, a transação não pode ser efetuada no crédito.

Fim do dinheiro em espécie

João Pedro Paro, CEO da Mastercard no Brasil e Cone Sul: “Estamos caminhando em direção a um mundo em que o dinheiro físico não será mais necessário.” Foto: divulgação

Exatamente por não exigir senha, as compras só podem ser no débito, modo que retém porcentagem menor em comparação às vendas parceladas e no crédito. Mas, como nem tudo são flores, há um porém: por enquanto, o limite máximo transacionado não pode ultrapassar R$ 50. Esse valor, no entanto, tende a aumentar de acordo com a popularização e, sobretudo, com a maior confiança do consumidor.

Além do uso de cartões, os pagamentos por aproximação também podem ser feitos através de dispositivos móveis e acessórios, como smartphone, smartwatch, pulseira e óculos. No caso dos celulares, com a ajuda de carteiras digitais, como Apple Pay e Samsumg Pay, que são conectadas às redes das bandeiras de cartões. Na Suécia e em outros mercados europeus – acredite – há consumidores usando chips debaixo da pele para realizar esse tipo de pagamento.

Se essa tendência chegará por aqui, não sabemos, mas, ao que tudo indica, o mercado brasileiro – o segundo maior da Mastercard, atrás apenas dos Estados Unidos -, tem aprovado o pagamento sem contato através de cartões e do smartphone. Entre 2017 e 2018, as transações pularam de 130 mil para 1,4 milhão. “É um mercado cujo potencial de crescimento é gigantesco”, acrescenta o executivo.

A seguir, trechos da entrevista com João Pedro Paro:

CWS: Como tem sido a aceitação do pagamento por aproximação a nível mundial?

João Pedro Paro: Globalmente, uma em cada cinco transações feitas de forma presencial é realizada com tecnologia por aproximação. Esses pagamentos dominam os PDVs na Austrália, 92%; República Tcheca, 84%; Geórgia, 83%; Polônia, 74%; Hungria, 73% e Chile, 51%.

CWS: E no Brasil?

João Pedro Paro: Por aqui, mais de 4,5 mil cidades já estão aptas a realizar este tipo de pagamento. Os setores que lideram o número de transações sem contato são as mercearias e supermercados, seguido por lanchonetes, restaurantes e postos de gasolina. No comparativo ano a ano, entre dezembro de 2017 e dezembro de 2018, esse tipo de pagamento cresceu aproximadamente 11 vezes, saltando de 130 mil transações em 2017 para 1,4 milhão de transações em 2018.

CWS: A alta no uso desse método e, ainda, a maior adesão dos cartões de plástico colocam em risco o papel-moeda?

João Pedro Paro: O dinheiro em espécie representa um alto custo para a sociedade. E, por isso, nossos esforços são sempre voltados a encontrar formas mais eficientes de realizar pagamentos, caminhando em direção a um mundo em que o dinheiro físico não será mais necessário.

Segundo o Banco Central, apenas em 2017, R$ 800 milhões foram gastos na administração do dinheiro (aquisição, acondicionamento e guarda, distribuição, seleção, destruição e outros), enquanto notas falsas representaram um rombo de R$ 36 milhões apenas no último ano.

De acordo com estudo do Bacen, no comércio, o volume de pagamentos em espécie recuou de 55% em 2013 para 50% em 2018, enquanto o cartão de débito subiu de 14% para 20% no período. Os cartões de crédito (de 26% para 25%) e os cheques (de 3% para 1%) retrocederam; embora o dinheiro ainda represente a maior parte das transações, o uso de outros meios não eletrônicos já vem caindo.

CWS: A Mastercard também tem liderado iniciativas que usam biometria. Como elas funcionam na prática?

João Pedro Paro: Hoje, os celulares já sabem quem somos, reconhecendo rostos e impressões digitais, por exemplo. Ela funciona como uma camada adicional de proteção, dispensando o uso de senhas numéricas. Por meio de algoritmos, mais de mil pontos da face do usuário são mapeados e transformados em um número que identifica o usuário. É possível fazer pagamentos com uma selfie, por exemplo, e até aeroportos já identificam passageiros em embarques internacionais apenas pelo rosto.

Por isso, entre as soluções da Mastercard que utilizam esse tipo de tecnologia podemos mencionar o Identity Check Mobile (ID Check). Trata-se de uma solução que autentica pagamentos online com o uso da biometria – seja impressão digital ou reconhecimento facial (como selfie). O objetivo é verificar, de forma simples e segura, a identidade do portador do cartão, sem a necessidade de lembrar e digitar a senha no celular.

Além disso, o ID Check chega para contribuir na redução do abandono do carrinho por conta de não lembrar a senha. O primeiro projeto piloto no Brasil foi lançado no final do ano passado em parceria com o Santander e a Dafiti. O banco foi o primeiro emissor da América Latina a disponibilizar a solução para correntistas e não correntistas.

CWS: Em 2017, a Mastercard adquiriu a NuData Security (uma empresa que fornece soluções contra fraudes online e via mobile com base em indicadores biométricos comportamentais). O que mudou desde então nas iniciativas da companhia?

João Pedro Paro: Implementamos uma solução que usa a biometria comportamental, o Nudetect, que identifica os usuários com base em suas interações online, em app e pelo celular. A tecnologia avalia, pontua e aprende com cada transação online ou móvel realizada pelo consumidor. Por exemplo, ele consegue identificar de que modo o usuário de um mobile segura o telefone ou com qual dedo ele usa o touch screen.

Assim, padrões vão sendo criados e mesmo que você esteja fazendo uma transação em uma loja que não é do seu costume, em um local que também não é o convencional (parâmetros usados no passado), podemos identificar que você é você pela mão com a qual você pega o seu telefone ou pela rapidez com que você digita no computador, por exemplo, aumentando a segurança digital.

CWS: Com tantas iniciativas tecnológicas, a Mastercard já pode ser considerada uma empresa 100% com foco no digital?

João Pedro Paro: Com certeza. Mais do que uma empresa de cartão de crédito, a Mastercard é hoje uma empresa de tecnologia para a indústria de meios de pagamento eletrônico, envolvendo soluções para emissores, adquirentes e lojistas. A empresa vem atuando especialmente com o desenvolvimento de soluções que aumentam a conveniência e a segurança de seus clientes, tanto no mundo físico, como o pagamento por aproximação, como no mundo digital, como o uso de biometria para a autenticação do usuário.

CWS: Qual a importância das fintechs no mercado brasileiro? Elas são uma ameaça para vocês?

João Pedro Paro: Pelo contrário. Somos parceiros. Em resposta a esse movimento, criamos uma equipe de Produtos e Inovação que está trazendo o conhecimento físico, digital e a inovação para garantir que entregamos soluções holísticas digitais ativadas. Com isso, mantivemos a nossa liderança no segmento de fintechs. Somos parceiros das cinco maiores fintechs do País e nossa estimativa é que esse setor cresça 124% apenas este ano.

CWS: A Mastercard, então, enxerga um futuro próspero tratando-se do mercado digital no Brasil.

João Pedro Paro: Sem dúvida. O Brasil é o segundo maior mercado consumidor da Mastercard, atrás apenas dos EUA. O potencial de crescimento é gigantesco. Entender como a dinâmica do mercado opera, conhecer profundamente as expectativas e a forma como os clientes se comportam no ambiente digital, e reconhecer o papel essencial da tecnologia e inovação, nos permitem antever às principais tendências do setor. Com isso, vamos continuar desenvolvendo produtos e soluções de vanguarda para a indústria de pagamentos eletrônicos.

(Matéria publicada em julho de 2019).