Na era da digitalização, empresas que não adaptaram (e não estão adaptando) seus negócios estão morrendo, como a britânica Thomas Cook, que surpreendeu o mundo ao decretar falência. Mas, infelizmente, ela não está só

A frase é clichê, mas nunca foi tão representativa: o mundo é digital. E tende a ser cada vez mais, com o avanço de tecnologias, maior adoção de smartphones, a chegada do 5G e o amadurecimento do ecossistema de startups.

Ainda assim, acredite, há empresas que insistem em fechar os olhos para esta nova era – mas acabam mesmo é fechando suas portas. O caso mais recente é da britânica Thomas Cook, companhia de turismo que se manteve em operação durante 178 anos, tornando-se a operadora mais antiga em atividade do mundo.

Mas não bastou ter tradição e experiência. A falta de inovação contribuiu para que ela não despontasse em um mercado cuja a movimentação chega a US$ 8,8 trilhões, de acordo com o último relatório do World Travel & Tourism Council.

É fato que há uma sucessão de erros por trás de sua falência, começando em meados de 2007, quando o grupo comprou a MyTravel, numa aquisição custosa e que apenas turbinou suas dívidas. Entre outras razões atribuídas à derrota, estão as incertezas do Brexit, que fizeram muitos turistas adiarem viagens, e a turbulência política e econômica na Turquia, um dos destinos mais procurados pelos viajantes da Thomas Cook.

Para o analista Neil Wilson, da Markets.com, o maior dos erros foi não acompanhar as mudanças. “Thomas Cook fracassou porque não soube evoluir com o tempo.”

Fechar os olhos para as mudanças, sem dúvida, é fatal para empresas hoje, independentemente de seu tamanho ou setor de atuação.

“A palavra-chave é velocidade. Quem ainda não traçou um plano irá chegar atrasado, se é que vai chegar, pois o mundo está se transformando digitalmente. Todos estão mais conectados. Não tem como fugir. E tudo acontece rapidamente”, afirma Pietro Delai, gerente de consultoria e pesquisa da IDC Brasil.

Uma estimativa da empresa americana Andreessen Horowitz mostra que, até o fim do próximo ano, teremos 50,1 bilhões de dispositivos em uso. Mais consumidores conectados representa mais consumo pela rede.

No caso do mercado de viagens, a digitalização nos tornou agentes de turismo: pelo smartphone, conseguimos, sozinhos, fechar pacotes, passagens áreas e alugar carros sem dificuldade. Segundo a Associação Britânica de Agentes de Viagens (ABTA), somente um entre sete turistas fecha pacotes de viagem em uma loja física. E, ainda, são pessoas com mais de 65 anos e com baixo poder aquisitivo.

A mudança de comportamento não condizia com as mais de 500 lojas da Thomas Cook. Elas não resistiram à concorrência virtual, alavancada, sobretudo, por startups como Airbnb.

Mas ela não foi a única que não decolou na era digital. A Valuer divulgou uma lista com 50 empresas que falharam por não inovar. Relembre algumas delas:

Nokia

A finlandesa foi a primeira a criar uma rede de celulares no mundo e, entre o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, tornou-se líder no segmento. Nessa época, seu faturamento chegou a US$ 4 bilhões. Com o boom da internet, novos players entraram para a disputa de mercado, entre eles a Apple com seu IPhone, em 2007.

De acordo com o relatório da Valuer, as empresas começaram a entender como os dados, e não a voz, eram o futuro da comunicação.

“A Nokia não entendeu o conceito de software e continuou se concentrando no hardware porque a gerência temia alienar os usuários atuais se eles mudassem demais. O erro foi o fato de eles não quererem liderar a mudança drástica na experiência do usuário. Isso fez com que a Nokia desenvolvesse uma bagunça no sistema operacional e uma experiência ruim para o usuário, assim não se encaixando no mercado”, diz trecho da análise.

Em 2008, a Nokia finalmente tomou a decisão de competir com o Android, mas já era tarde demais. Seus produtos não eram competitivos o suficiente.

Blockbuster

A Blockbuster não olhou a concorrência, não inovou e, assim, perdeu mercado. Ela, que já foi avaliada em US$ 5 bilhões e esteve presente em 26 países com oito mil lojas e mais de 70 milhões de associados, teve seu “filme queimado” com a ascensão da plataforma de streaming Netflix.

Em 2010 e, ainda, com o mesmo modelo de negócio ultrapassado, a Blockbuster acumulava dívidas altíssimas. Posteriormente, foi arrematada pelo grupo Dish Network em um leilão de falência, mas, dois anos depois, seu novo dono decretava o fim da rede.

Quem enxergou o digital antes foi além. Hoje, a Netflix colhe os frutos de suas iniciativas inovadoras e se transformou em uma verdadeira potência no mercado de filmes e séries, com suas produções milionárias.

A companhia, avaliada em US$ 115 bilhões, já ostenta 150 milhões de assinantes no mundo. “A internet não matou a Blockbuster, a empresa fez isso sozinha”, diz um artigo da revista Forbes.

Kodak

Fundada nos anos 1880, a americana Kodak foi a grande responsável pela popularização da fotografia impressa, que perdera espaço muitos anos depois com o lançamento das câmeras mais tecnológicas.

Curiosamente, em 1975, a companhia guardava a sete chaves uma invenção que, se tivesse sido lançada no momento certo, poderia ter dado outro rumo à empresa: a câmera digital. Com receio de atrapalhar seus atuais negócios, afundando as vendas de seus filmes fotográficos, ela própria se sabotou.

O ex-vice-presidente da Kodak, Don Strickland, disse: “Desenvolvemos a primeira câmera digital de consumo do mundo, mas não conseguimos aprovação para lançá-la ou vendê-la devido ao medo dos efeitos no mercado de filmes.”

Em 2012, a companhia entrava em concordata, com US$ 6,75 bilhões de dívidas.

Sears

Sears, que já foi a maior rede de lojas de departamento dos EUA, hoje segue abalada com o avanço do comércio eletrônico. Após fechar centenas de pontos físicos, agora tenta ganhar fôlego para competir com as marcas digitais.

Enquanto seus concorrentes se digitalizaram, ela não soube se adaptar às mudanças para atender os novos consumidores. “Até hoje, a empresa continua experimentando um declínio no tráfego e nas vendas nas lojas, porque eles têm dificuldade em mudar para o digital”, diz parte do relatório da Valuer.

E, para você, qual é o pior case de insucesso em tempos digitais?

(Matéria publicada em setembro de 2019).