Em entrevista ao Insights TV, o cofundador relembra o começo do negócio, avalia o mercado das startups e a virada da empresa depois da pandemia
Há dez anos, quando nasciam as primeiras startups de sucesso no Brasil, como Loggi, iFood e Nubank, uma, em especial, chegava para movimentar – literalmente – o mercado: a plataforma Gympass.
Visando o setor B2B, o negócio chamou a atenção por conectar o mundo corporativo e seus funcionários às academias e estúdios de ginástica, beneficiando todas as pontas.
“Mas, para ser atrativo para todos, é claro que tivemos que fazer muitos ajustes no meio do caminho. Não foi fácil”, assume João Barbosa, cofundador do Gympass, em entrevista ao Insights TV.
O ganha-ganha segue a seguinte lógica: para as empresas que oferecem o benefício aos seus colaboradores, a vantagem é o gasto menor com planos de saúde, uma vez que funcionários que praticam exercícios físicos tendem a ter uma vida mais saudável e com menos propensão à doenças.
Para os usuários do Gympass, mais opções de academias e outras modalidades a um custo até 80% menor em relação às academias convencionais.
Outra vantagem, para os usuários, é poder usufruir cada dia de um espaço diferente, sem contratos anuais. “Todo começo de ano ou começo de semana, o brasileiro costuma se inscrever em uma academia. Mas, poucos meses depois, desiste. A ideia, desde o início, é oferecer mais flexibilidade ao usuário, para testar novas modalidades até encontrar a ideal”, diz.
Mas as academias, no começo, não gostaram da proposta, uma vez que passariam a vender diárias e não mais planos anuais.
“Toda vez que chega uma empresa que tenta mudar algo, sempre há uma grande resistência do mercado. O trabalho de engajar as academias foi demorado, porque elas, no começo, não viam vantagem em vender diárias, o que já era muito comum em mercados como Estados Unidos e Europa”, diz.
Aos poucos, segundo o executivo, as academias perceberam que ganhavam no volume e, hoje, não enxergam o Gympass como uma ameaça, mas, sim, como facilitadores de atividades físicas.
Sem abrir números de usuários, Barbosa diz que seu negócio beneficia milhões de brasileiros e reúne 25 mil academias de ginástica de 32 mil registradas no Brasil. Ou seja, 8 em cada 10 estabelecimentos fitness são parceiros da plataforma.

De acordo com ele, é possível mensurar o retorno do investimento para as empresas que aderem ao Gympass. Entre os dados, um chama a atenção: estima-se uma redução de até 30% nos casos de doenças crônicas entre os usuários, corroborando a ideia do aumento da qualidade de vida e, por consequência, a diminuição dos custos da empresa com despesas médicas dos funcionários.
“Temos uma área especializada em dados, assim conseguimos tangibilizar tudo isso para as empresas”, explica.
Superapp de bem-estar
Se até 2020, o Gympass operava viabilizando atividades físicas, com a pandemia, o modelo de negócio ganhou novos rumos.
Por conta do coronavírus, a plataforma se adaptou e ganhou mais serviços, tornando-se um superpp de saúde e bem-estar. “Para que muitas academias não falissem durante a fase mais crítica da pandemia, disponibilizamos aulas online e outros serviços para cuidar da saúde mental dos nossos usuários”, comenta Barbosa. “Hoje, somos uma plataforma de saúde e bem-estar.”
Os usuários, agora, podem contar com consultas com nutricionistas e psicólogos, além de acesso a aplicativos de bem-estar, como meditação e gestão emocional, para lidar com o luto, por exemplo. “Nossos usuários já têm a flexibilidade de frequentar uma academia presencialmente ou optar por uma aula com personal trainer sem sair de casa”, diz.
Década de ouro
Na última década, os investimentos em startups brasileiras cresceram mais de 60 vezes. Só no ano passado, de acordo com uma análise da Distrito, esse mercado movimentou US$ 9,4 bilhões no País.
Ao analisar os últimos dez anos, Barbosa também credita o sucesso das novas entrantes às mudanças culturais da sociedade.
“Antigamente, ao sair da faculdade, a pessoa buscava um cargo de trainee em uma empresa consolidada. Hoje, grande parte dos estudantes almeja empreender. Essa ratificação de que o caminho de empreender não é um caminho fácil, é uma jornada, mas que é possível, sim, ter sucesso, tem aberto muitas portas para o empreendedorismo e o cenário das startups. No entanto, o Brasil ainda precisa evoluir muito para chegar ao nível dos Estados Unidos e da Europa, com regulação, ambiente mais favorável e acesso às tecnologias”, opina. “Mas acho importante essa validação social, de que você pode construir algo por você.”
Para ele, as startups vieram mostrar para as empresas, em geral, que é preciso ter ações com base no dinamismo e na inovação para continuarem competitivas. “O que vai determinar se um negócio será bem-sucedido é a capacidade de se adaptar e executar rapidamente”, diz.
Presente em 12 países, sendo os Estados Unidos o segundo maior mercado depois do Brasil, mais de 50 mil academias fazem parte do ecossistema do Gympass. Não à toa, a empresa entrou para a lista de unicórnios brasileiros.
Para o executivo, ter se tornado unicórnio é uma confirmação de que o negócio está no caminho certo. “Ter esse título confirma que não somos tão loucos assim, que podemos impactar vidas e ser global. Mas é apenas uma parte do processo, não o fim. Ainda temos muito que melhorar para continuarmos no caminho do crescimento”, afirma.
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