Modelos construídos com base em plataformas SaaS (software as a service) têm sido a estratégia de muitas empresas que ambicionam escalar os seus negócios e crescer no mercado.
Por isso, atualmente, se tornou cada vez mais comum marcas já consagradas partirem para novos modelos de negócios envolvendo marketplaces e novas tecnologias, seguindo exemplos bem-sucedidos como a Amazon, Magazine Luiza e Via.
Mais recentemente, até a operação da Decathlon no Brasil anunciou que está prestes a lançar seu próprio ecossistema digital, abrindo suas “portas virtuais” para varejistas terceiros. Shoppings centers, que sempre priorizaram as vendas físicas, também estão se rendendo aos corredores digitais – caso da Aliansce Sonae e do Grupo Iguatemi.
Com este movimento, elas almejam entrar para o grupo das chamadas “empresas de crescimento”, transformando-se em companhias de tecnologia. Inclusive, todas essas marcas têm parcerias com startups e empresas de tecnologia, a fim de acelerar suas iniciativas no meio digital.
Em entrevista à CWS Insights, Edson Matsubayashi, que é um dos nomes mais conhecidos dos setores industrial e empresarial, opinou sobre essa questão.
“Acho que estamos apenas começando o nosso ciclo de transformação digital e, em breve, acredito que teremos mais empresas digitais entre as companhias mais valiosas da Bolsa”, comentou.
Segundo ele, as startups que vão desafiar os líderes em cada setor buscam explorar os problemas mal resolvidos e as dores que as soluções atuais ainda causam nos clientes.
“Esse é o flanco exposto das empresas líderes que será atacado. Desta forma, ser ‘customer centric’ não é apenas um exercício para os líderes tradicionais melhorarem marginalmente seus serviços, mas uma necessidade estratégica para descobrir qual o flanco descoberto que será atacado pelas startups.”
De uma forma simplificada, empresas de energia, bebidas e bancos tradicionais são consideradas empresas de valor pelo mercado financeiro; enquanto as mais disruptivas e tecnológicas – como Tesla, Amazon, Netflix, Nubank, iFood, etc – são classificadas como empresas de crescimento, tendo como característica uma valorização rápida e crescente no mercado
Olhando em perspectiva para os dois grupos, por meio de uma série histórica comparativa e iniciada em 1993, na bolsa de Valores Americana, pode-se comparar o comportamento dos dois grupos e, consequentemente, o valor intrínseco atribuído pelo mercado – ou capacidade de geração de valor – a cada um dos grupos de empresas.
A partir dos dados acima, percebe-se que as empresas de crescimento atualmente performam aproximadamente cinco vezes mais que as empresas tradicionais. O desempenho deste grupo se descola das empresas de valor a partir de 2007 (início da crise do subprime norte-americano), atingindo seu auge ao longo de 2020, durante a pandemia da Covid-19.
Assim, naquele momento, um modelo de vendas concebido digitalmente, por exemplo, estava avaliado em valor cinco vezes maior que um modelo de varejo tradicional, ainda que ambos possuíssem o mesmo nível de receita e endividamento.
“Acho que não seria exagero dizer que o digital é hoje a principal alavanca de criação de valor. Existe uma concepção que eu considero incorreta de que o digital é a digitalização de processos existentes ou que digital é TI. Digital ou transformação digital é sobre como as novas tecnologias possibilitam transformar o modelo de negócio atual à luz daquilo que é melhor para o cliente e não só o que seria mais eficiente para a empresa”, afirma Edson Matsubayashi.
A crise do coronavírus é o exemplo mais recente de empresas que tiveram que sair de sua zona de conforto e inovar. Caso contrário, não seriam mais competitivas e acabariam obsoletas no mercado.
O gráfico acima comprova tal afirmação, mostrando quase três décadas de perspectiva da Bolsa de Valores. As duas grandes crises recentes da economia – subprime e coronavírus – serviram para alavancar o crescimento de empresas de tecnologia.
Muito em função do “susto” causado pela bolha pontocom do final dos anos 1990, o grupo de empresas growth vinha perdendo espaço para os investidores durante a primeira metade dos anos 2000. Porém, com a crise do subprime em 2008, observa-se que os fluxos de investimentos passam a ser direcionados para os negócios growth, invertendo a tendência de mercado entre as duas curvas.
A partir daquele momento, diferentemente do ocorrido no final dos anos 1990, as empresas de tecnologia já demonstravam ser capazes de impactar significativamente a economia, trazendo aumento de produtividade e lucros para a economia classificada como “real”. Por isso, o fluxo de recursos destinado para este grupo de empresas se dá de forma ininterrupta durante os próximos 15 anos. Assim, o digital já se provava como tese de geração de valor dentro da economia.
No final de 2020, a crise do coronavirus vem para, mais uma vez, alavancar os investimentos no setor. Ficou evidente, durante esta crise, qual era a real capacidade das empresas digitais em entregar resultados e atender às necessidades de uma economia naquele momento colocada em restrição, devido ao isolamento das pessoas.
Além de conseguirem responder aos desafios correntes causados pelo isolamento, as empresas deste segmento também viram aumentar seus lucros futuros, com o crescimento súbito de consumidores que ainda não tinham a cultura digital migrando para esta modalidade de consumo e modificando de maneira perene seus hábitos.
Para Pietro Delai, gerente de consultoria e pesquisa da IDC Brasil, o “bonde da inovação” ainda não passou de vez. “A palavra-chave é velocidade. Os empresários precisam estar preparados para este novo ciclo e, principalmente, ter estrutura para o crescimento dentro da economia digital”, afirma.
Nos próximos meses, a maior parte das empresas estará dedicada a esforços para correr contra o tempo, afinal, esperar uma “nova crise” não é uma opção. “Muitas companhias não tiveram uma visão mais ampla e ainda estão no processo de conscientização para desenvolver oportunidades”, diz. A hora de pegar o bonde é agora.