Em entrevista ao Insights, Daniel Weimer, um dos fundadores da companhia, explica como funciona a solução que chega para solucionar os principais gargalos no sistema de entregas brasileiro

Em um território tão complexo como o brasileiro, o setor de logística é um dos que mais tem enfrentado desafios. Tratando-se do B2B (Business to Business), as entregas são ainda mais complicadas, sobretudo, as de cargas fracionadas.

E, em um cenário onde as vendas digitais crescem em ritmo acelerado, as empresas deste setor precisam, mais do que nunca, ter acesso a soluções que visam sanar suas “dores”. De acordo com um estudo da consultoria americana McKinsey, com a pandemia, houve um aumento de 62% do e-commerce B2B no Brasil.

A fim de simplificar e potencializar a logística deste segmento, quatro empreendedores brasileiros – Adriano Buzetti, Daniel Weimer, Jeferson Zimmermann e Alexandre Coelho – viabilizaram um modelo de plataforma de fretes digitais em 2019, a TruggHub, que nasceu a partir de uma venture builder.

Em um período em que a “uberização” da logística estava despontando, com nomes como Loggi e CargoX, a empresa foi ganhando força e, atualmente, já é considerada um dos principais players do mercado.

“O aumento das vendas B2B no e-commerce exigiu uma logística diferente da praticada no B2C, pois os pedidos eram maiores e normalmente de produtos mais pesados e volumosos do que no e-commerce B2C”, diz Daniel Weimer. “Embora já existissem plataformas de fretes pesados, não havia uma solução que atendesse bem as entregas B2B de cargas fracionadas”.

A solução na prática

Segundo Weimer, a TruggHub conecta embarcadores e transportadoras, propiciando que transportadoras que ainda não estão adaptadas para o e-commerce, operem, com êxito, a carga fracionada.

“Isso ocorre por meio de integrações nativas com as principais ferramentas de e-commerce que o embarcador utiliza, como a Plataforma CWS, de modo a ativar, no menor tempo possível, mais opções de fretes e uma experiência de gestão de entrega muito mais eficiente”, explica o executivo.

Ao ter acesso a diferentes opções de fretes, os custos são reduzidos, uma vez que é possível encontrar transportadoras mais adequadas para determinadas rotas ou perfis de carga.

“O frete não é mais barato porque a transportadora está espremendo suas margens. O frete é mais barato, simplesmente, porque o custo operacional daquela transportadora naquela determinada rota é menor. Essa abordagem tem permitido reduções de até 30% nos gastos com fretes”, garante Weimer.

Em pé (esquerda para a direita): Alexandre Coelho e Adriano Buzetti. Sentados (esquerda para a direita): Jeferson Zimmermann e Daniel Weimer. Foto: divulgação

Operando em todos os estados do País, as regiões Sul e Sudeste são os principais mercados da empresa, que, recentemente, ampliou sua atuação para Manaus e Nordeste.

A digitalização na logística

Para o executivo, embora o setor esteja mais digitalizado, ainda caminha a passos lentos e de forma descoordenada, já que embarcadores e transportadoras têm olhado para “rotas” diferentes.

“Os embarcadores, que são as marcas e as indústrias, que têm na logística um fator crítico de competitividade, estão investindo alto em canais digitais de venda e em novos modelos de distribuição e, portanto, precisam ter a gestão das entregas bem orquestrada, precisando de dados e de automação nas tarefas para isso. Já as transportadoras ainda focam seus investimentos em ativos tangíveis, como novos caminhões ou mais espaço em seus armazéns, e não investem o suficiente em tecnologia para modernizar suas operações”, analisa.

Esse desencontro, segundo Weimer, tem dificultado a troca de informações em escala e em tempo real entre embarcadores e transportadoras, sendo um dos maiores obstáculos atuais para a logística digital. Mas, em alguns anos, o empreendedor acredita em uma logística verdadeiramente integrada.

“Hoje ainda existem muitas operações redundantes que poderiam ser compartilhadas para gerar mais otimização. Mas para combinar operações, a informação precisa fluir por todo o ecossistema de logística e alguém precisará coordenar esse fluxo de informações e mediar as interações, buscando maximizar a eficiência para gerar o efeito de rede, numa lógica de abundância de oferta de transporte, ao invés da política de escassez que presenciamos nos dias atuais. Queremos fazer da TruggHub o centro de convergência que viabilizará esse modelo.”

Para isso, a empresa planeja investir na combinação dos modais rodoviário, aéreo e marítimo (navegação de cabotagem), unindo os trechos de forma imperceptível para o consumidor final – levando os negócios mais longe e sem comprometer a experiência de entrega.

“Nessa equação precisam entrar também os ‘transit points’ e estoques avançados, em que os dados processados por inteligência artificial indicarão as tendências de demanda para orientar a formação desses estoques estratégicos”, diz o executivo.

A ideia é se apoiar nos parceiros de tecnologia no e-commerce para garantir o fluxo de informação que permitirá que o sistema de entregas funcione de maneira fluida. 

“Não será possível transformar o mercado sem a formação de uma rede de parceiros. Precisamos conectar as pontas e permitir que a informação flua, derrubando os silos de dados que muitos ainda guardam como se fossem um tesouro. A informação, por si só, não é o que tem valor. O valor está no compartilhamento da informação. É a ação baseada na informação que vai gerar valor para o cliente. Acredito que a criação de arquiteturas abertas de acesso à informação será um elemento crítico para gerar a disrupção no mercado”, comenta.

A logística no agronegócio

Operando em diferentes setores – sendo o maior o de materiais de construção -, o agronegócio também é importante para a TruggHub, que o analisa como desafiador por conta do alto volume de cargas fracionadas.

Weimer diz que esse cenário propicia algumas ineficiências, porque, de uma forma geral, é preciso fazer entregas em lugares mais distantes, de menor concentração de clientes, com estradas mais difíceis e em volumes menores do que nos grandes centros urbanos.

Isso resulta em veículos grandes que saem lotados para a entrega, mas nos trechos finais estão com poucas cargas, portanto com a capacidade subaproveitada, gerando mais custos.

“Para combater esse efeito, apostamos em ‘smart lockers’ e ‘transit points’, em que podemos transportar uma carga maior em frações menores, entregues por veículos menores de entregadores locais acionados por demanda (crowdshipping), o que aumenta a eficiência, reduzindo o custo do frete”, afirma.

Melhor experiência para os clientes finais

A solução tem facilitado a rotina de embarcadores e transportadoras, e, também, beneficiado a outra ponta da cadeia, os clientes finais.

Se, ao utilizar a plataforma TruggHub o motorista ganha agilidade para encontrar fretes e, ainda, mais produtividade por conta do sistema de roteirização, o consumidor, por sua vez, ganha uma melhor experiência.

“O cliente final tem uma melhor rastreabilidade da encomenda e mais precisão sobre o prazo de entrega. Além disso, conta com a possibilidade de redução do preço do frete, que, no cenário de compras de produtos maiores ou mais pesados no e-commerce, como materiais de construção, peças automotivas ou equipamentos do agronegócio, pode ser decisivo”, finaliza.